O baixo rendimento dos motores à combustão

Esta semana que passou estive procurando um carro para comprar, e acabei optando por um modelo 1.6 da Volkswagem - o CrossFox, ano 2007.


Potência e cilindradas
As potências dos motores, no Brasil, normalmente são dadas em cv (cavalo-vapor). Encontrei uma tabela comparando modelos de carros, e aproveitei para analisar alguns valores do CrossFox que comprei. A potência máxima informada é de 101 cv (gasolina), ou 103 cv (álcool), e seu peso é de 1.115 kg. Em outra tabela obtive a aceleração de 0 a 100 km/h. Lá diz que o carro realiza esta performance em 13,0 s (gasolina) ou 12,7 s (álcool).
O diâmetro de cada cilindro é D = 76,5 mm, e o curso (comprimento) é C = 86,9 mm.
A cilindrada dada na tabela é de 1.598 cm³.
Se fizermos um simples cálculo matemático do volume de cada um dos cilindros, de acordo com os valores informados, teremos:$$ \begin{equation*} \large V = \frac{ \pi . D^2}{4}. C \end{equation*}$$ Substituindo:$$ \begin{equation*} \large V = \frac{3,14 . (76,5)^2}{4}. 86,9 \end{equation*}$$que dá aproximadamente$$ \begin{equation*} \large V \simeq 399.220 mm³ \end{equation*}$$ ou $$ \begin{equation*} \large V \simeq 399,22 cm³ \end{equation*}$$ Multiplicando este valor pelos 4 cilindros, temos: $$ \begin{equation*} \large V \simeq 1.596,8 cm³ \end{equation*}$$ que é um valor bem próximo das cilindradas informadas, e que na prática pode ser arredondado para 1.600 cc (cm³). Se dividirmos por 1.000, chegamos ao termo 1.6, usado popularmente.
Outro fator é a eficiência dos motores. Vejam esta questão, mais uma das que caiu na prova de Promoção por Mérito, que eu fiz em setembro deste ano:
SOLUÇÃO
O Trabalho útil (W) realizado sobre o carro corresponde à variação da Energia Cinética (∆Ec). $$ \begin{equation*} \large W = \Delta Ec \end{equation*}$$ Por sua vez, a Potência útil (Pu) corresponde ao Trabalho útil por unidade de Tempo ( ∆t ) $$ \begin{equation} \large Pu = \frac { \Delta Ec}{\Delta t} \end{equation}$$ Como o carro parte do repouso, a variação da energia cinética corresponde a energia cinética final, que é dada por:$$ \begin{equation*} \large Ec = \frac {m. v^2}{2} \end{equation*}$$ onde m é a massa do carro,  e  v é a sua velocidade final. Substituindo os valores dados na questão; 
m = 1.000 kg  , e   v = 108 km/h  = 30 m/s, temos: $$ \begin{equation*} \large Ec = \frac {1.000. (30)^2}{2} \end{equation*}$$ $$ \begin{equation*} \large Ec = 450.000 J \end{equation*}$$ Substituindo este valor, e também o valor de  ∆t = 10 s, dado na questão, na equação (1) tem-se: $$ \begin{equation*} \large Pu = \frac {450.000}{10} \end{equation*}$$ $$ \begin{equation*} \large Pu = 45.000 W \end{equation*}$$
O rendimento (n)  é definido como sendo a razão entre a Potência útil (Pu) e a Potência total (Pt), esta última dada na questão, e vale 100 cv, ou 75.000 W. Portanto, o rendimento é de:$$ \begin{equation*} \large n = \frac {45.000}{75.000}  \end{equation*}$$ $$ \begin{equation*} \large n = 60\% \end{equation*}$$ A alternativa correta é a (D).

Rendimento do CrossFox
Para comparar,  vou calcular o rendimento do CrossFox, usando os dados de aceleração, peso e potência fornecidos nas tabelas, usando álcool como combustível:
m = 1.115 kg
v = 100 km/h = 27,78 m/s
∆t = 12,7 s
Pt = 103 cv = 77.250 W

Calculando a Energia Cinética, obtive 430.170 J.
Potência útil (Pu) deu 33.871,6 W.
rendimento encontrado foi de aproximadamente 43,8 %

Obs: Para comparar, eu mantive neste cálculo de rendimento do CrossFox a conversão de cv para W usada na questão, mas usando a real, que é um pouco diferente, já que 1 cv vale aproximadamente 735,5 W, teremos um rendimento de aproximadamente 44,7%

Conclusão: Apesar de todas as melhorias nos sistemas de transmissão da energia gerada nos motores à combustão, feita nos carros modernos, na média, aproximadamente a metade desta energia ainda é desperdiçada, principalmente na forma de calor e atrito. Uma boa solução seria a ampliação do uso dos carros híbridos, ou então melhorar a eficiência e capacidade de armazenamento de cargas das baterias, a fim de aumentar a circulação de carros totalmente elétricos, que também têm a grande vantagem de não liberarem gases e fumaça no ambiente.

Fontes:

Comparando as velocidades da Terra e da Lua

Nos séculos anteriores ao Renascimento, com base em modelos elaborados e defendidos por pensadores e astrônomos prestigiados, tais como Aristóteles e Ptolomeu, a maioria das pessoas acreditava que a Terra estivesse em repouso no centro do universo, com o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas e astros mais distantes girando em torno de nós. Uma exceção teria sido Aristarco, ainda na Grécia Antiga, que deduziu outro modelo. Para ele, seria mais lógico que o Sol, por ser maior do que a Terra, ocupasse o centro, e que a Lua, por ser menor do que a Terra, giraria em torno do nosso planeta. Este modelo, quase esquecido, bem mais tarde voltou a encontrar defensores, como Copérnico Galileu, e depois outros, como Kepler e Newton, que ao contrário dos geocêntricos, passaram a defender que a Terra é que faria o movimento em torno do Sol.

Hoje já sabemos que a Terra não só se movimenta ao redor do Sol (translação), mas que isto se dá a uma velocidade muito alta. Além disso, temos o giro em torno dela mesma (rotação), movimento responsável por confundir os geocêntricos.  
Neste post vou comparar a velocidade de translação da Terra em torno do Sol à velocidade orbital da Lua em torno da Terra, através da solução de uma questão da Prova de Promoção por Mérito da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Vejam:

SOLUÇÃO
Newton demonstrou que a força de atração gravitacional (F) entre dois corpos quaisquer, de massas M e m, separados por uma distância d é dada por: $$\begin{equation*}\large F = \frac{G.M.m}{d^2}\end{equation*}$$ onde G é a Constante Gravitacional Universal .  
Esta força corresponde também à força centrípeta sofrida pelo corpo de massa m, que é dada por: $$\begin{equation*}\large F = \frac{m.V^2}{d}\end{equation*}$$ Se igualarmos ambas as equações anteriores, e fizermos alguns arranjos, obteremos: $$\begin{equation} \large V = \sqrt { \frac{G.M}{d}} \end{equation}$$ onde V corresponde à velocidade do corpo em órbita.

Velocidade da Terra
Vamos ver primeiramente como fica a expressão para o cálculo da velocidade da Terra. Substituindo na equação (1): $$\begin{equation} \large V(Terra) = \sqrt { \frac{G.M(Sol)}{D}} \end{equation}$$ onde  M(Sol) é a massa do Sol, e  D é a distância Terra-Sol.
Nota-se que esta velocidade depende da massa do Sol, e independe da massa da Terra e também da massa da Lua.

Não é pedido na questão, mas vou calcular a velocidade da Terra, substituindo os dados, e usando o valor de G = 6,7.1o^-11. m³/kg.s²:
$$\begin{equation*}\large V(Terra)\simeq\sqrt{\frac{6,7.10^{-11}.2.10^{30}}{1,5.10^{11}}} \end{equation*}$$ $$\begin{equation*} \large V(Terra) \simeq 30.000 m/s \end{equation*}$$ $$\begin{equation*} \large  {V(Terra)} \simeq  {108.000 km/h} \end{equation*}$$ (Se quiser, clique aqui para ver no blog O Baricentro da Mente, como é possível chegar a um valor bem próximo deste, para a velocidade de translação da Terra, através de um caminho diferente) 

Velocidade da Lua
Agora vamos ver como fica a expressão para a velocidade da Lua em órbita da Terra. Substituindo na equação (1) obtemos:  $$\begin{equation} \large V(Lua) = \sqrt { \frac{G.M(Terra)}{d}} \end{equation}$$ onde  M(Terra) é a massa da Terra e  d é a distância Lua-Terra.

Dividindo-se a equação (2) pela equação (3) temos:
$$\begin{equation*} \large \frac {V(Terra)}{V(Lua)} = \sqrt{\frac{\frac{G. M(Sol)}{D}}{\frac {G.M(Terra)}{d}}}\end{equation*}$$ $$\begin{equation*} \large \frac {V(Terra)}{V(Lua)} = \sqrt{\frac{M(Sol).d}{M(Terra).D}}\end{equation*}$$ Substituindo os valores dados na questão: $$\begin{equation*} \large \frac {V(Terra)}{V(Lua)} \simeq \sqrt{\frac{2.10^{30}.3,8.10^8}{6.10^{24}.1,5.10^{11}}}\end{equation*}$$ Fazendo as aproximações da raiz quadrada temos: $$\begin{equation*} \large \frac{V(Terra)}{V(Lua)} \simeq 29,06 \end{equation*}$$ ou $$\begin{equation*} \large V(Terra) \simeq 29. V(Lua) \end{equation*}$$

Portanto, a resposta correta da questão é a alternativa (C)

A velocidade da Lua em torno da Terra seria portanto cerca de 3.700 km/h.

Teoria da Relatividade e contração do espaço

A Teoria Especial da Relatividade, ou Teoria da Relatividade Restrita, foi publicada por Einstein, em 1905. Ela recebe a qualificação de restrita porque trata apenas dos sistemas em que não são considerados os campos gravitacionais. Foi um prenúncio da Teoria Geral da Relatividade, publicada em 1915, em que são acrescentados os efeitos destes campos. 
Um entendimento razoável pode ser obtido pelos alunos ainda no Ensino Médio, para que tenham uma noção sobre a alteração na percepção do tempo e do espaço, quando tratamos de velocidades muito altas, próximas à velocidade da luz.
No caso do espaço, em uma experiência por enquanto imaginária, se uma pessoa estivesse dentro de uma nave a uma velocidade muito alta (v), próxima à velocidade da luz (c), veria os objetos de fora da nave com um comprimento (l) menor do que o real (L). A equação para o cálculo é dada por: $$\begin{equation}\large l = L. \sqrt{1- \frac{ v^2}{c^2}} \end{equation}$$ Vou exemplificar com uma questão:
SOLUÇÃO
Como é dito que a velocidade da nave é 80% da velocidade da luz, temos: $$\begin{equation*}\large v = 0,8.c\end{equation*}$$ Substituindo na equação (1): $$\begin{equation*}\large l = 5,0. \sqrt{1- \frac{(0,8.c)^2}{c^2}} \end{equation*}$$ $$\begin{equation*}\large l = 5,0. \sqrt{1- \frac{8^2}{10^2}} \end{equation*}$$ $$\begin{equation*}\large l = 5,0. \sqrt{1- \frac{64}{100}} \end{equation*}$$ $$\begin{equation*}\large l = 5,0. \sqrt{\frac{100 - 64}{100}} \end{equation*}$$ $$\begin{equation*}\large l = 5,0. \sqrt{\frac{36}{100}} \end{equation*}$$ $$\begin{equation*}\large l = 5,0. {\frac{6}{10}} \end{equation*}$$ $$\begin{equation*}\large l = \frac{30}{10} \end{equation*}$$  $$\begin{equation*}\large l = 3,0 km \end{equation*}$$ A resposta correta é a alternativa (B).

Fontes:

Tópicos de Física Moderna - Dulcídio Braz Júnior
http://pt.wikipedia.org/wiki/Relatividade_Restrita

Aplicações criativas para os espelhos planos

Os espelhos planos podem ter muitas aplicações inusitadas. Na Noruega, espelhos planos foram instalados em cima de uma montanha, com o objetivo de refletir a luz solar e iluminar a praça central da cidade de Rjukan, situada em um vale fechado, pois durante os longos meses de inverno os raios de sol não incidem diretamente na cidade. 
Pessoas na praça desfrutando a luz do sol refletida pelos espelhos gigantes

Outra aplicação interessante foi mostrada no filme The Host (A Hospedeira). O filme trata de uns seres alienígenas que invadem a Terra e tentam "domesticar" os últimos remanescentes humanos ainda não dominados por eles, que estão refugiados e vivem escondidos em uma caverna das montanhas de um deserto dos EUA.
Nestas cavernas, estes humanos conseguem criar um sistema de iluminação artificial que funciona com a ajuda de vários espelhos planos colocados em uma grande abertura no teto da caverna (foto), que refletem e iluminam o interior, permitindo que eles cultivem trigo, usado na produção de alimentos. Em uma das cenas, a alienígena caçadora, que persegue os humanos implacavelmente do começo ao fim, passa com um helicóptero sobre a região das montanhas onde eles estão escondidos. Dentro da caverna, ao perceberem a aproximação do helicóptero, eles imediatamente correm para acionar manualmente um sistema de cabos que giram os espelhos para esconder o seu brilho e evitar que sejam vistos pela caçadora. Veja a cena:
   

Aplicações das Leis de Newton: a vantagem de um método alternativo

Para complementar minha renda, já que não recebo o suficiente para viver como eu gostaria, apenas trabalhando como professor de escola pública do Estado de São Paulo, tenho dado muitas aulas particulares de Física para alunos de diversas escolas particulares de Piracicaba. 
Em uma dessas aulas, uma aluna me pediu para que eu ensinasse como resolver problemas envolvendo aplicações das Leis de Newton, pois ela havia comentado comigo que a maioria da classe não estava entendendo a maneira como o professor deles ensinava. Vejamos o exemplo seguinte:

Dois blocos A e B, de massas respectivamente iguais a 3 kg e 2 kg, são empurrados por uma força  horizontal F de módulo 10 N, com mostra a figura. Desprezam-se os atritos entre a superfície da mesa e os blocos, e também a resistência do ar. Determinar:
 
a) a aceleração adquirida pelos blocos;
b) a força que o bloco A exerce sobre o bloco B.


O professor ensinou os alunos corretamente, de uma única maneira. Primeiramente são montados os diagramas de corpo livre para cada bloco e indicam-se as forças envolvidas. Assim:
Nestes diagramas, P representa o peso de cada bloco, N representa a força exercida sobre os blocos pela superfície, também conhecida como Normal. Na figura, f  representa a força que o bloco A exerce sobre o bloco B, que é a força que se quer encontrar, e que tem a mesma intensidade da reação do bloco B sobre o bloco A (3ª Lei de Newton).
Aplica-se a 2ª Lei de Newton (Fr = m. a) individualmente para cada bloco, considerando-se somente as forças na direção horizontal, já que as forças na direção vertical (P e N) se anulam. Desta maneira as equações ficam:

1) para o bloco A :
F - f = mA . a
10 - f = 3 . a       (1)
2) para o bloco B :
f = mB . a
f = 2 . a        (2) 
  
Substituindo a equação (2) na equação (1) tem-se:
10 - 2 . a  = 3 . a
10 = 3 . a + 2 . a
10 = 5 . a
a = 2 m/s²
Substituindo-se este valor na equação (2) tem-se:
f = 2 . 2 
f = 4 N 
Método alternativo
Para calcular a aceleração, eu prefiro usar um tipo de solução que considero mais fácil para os alunos entenderem, e foi a maneira que eu escolhi para ensinar a aluna. 
Pode-se aplicar a 2ª Lei de Newton para os dois blocos, como se eles representassem um sistema de massa 5 kg (3 kg + 2 kg). As forças f de contato neste caso, são consideradas forças internas ao sistema, e como atuam em sentidos contrários, elas se anulam. Então temos:

1) para o sistema:
F = (mA + mB) . a
F = (3+2). a
10 = 5 . a
a = 2 m/s² 

2) para o bloco B:
f = mB . a
f = 2 . 2
f = 4 N

Quando eu mostrei à aluna que qualquer problema deste tipo, inclusive envolvendo forças de atrito, podem ser resolvidos também desta maneira, ela achou mais fácil, porém ficou preocupada se o seu professor iria considerar correta a questão resolvida daquela maneira, na prova que ela iria fazer. Eu disse então a ela que conversasse com ele, e na aula seguinte, fiquei surpreso ao saber que o professor havia dito que da maneira como eu havia ensinado ele não recomendaria que fosse usado nas provas dele. Até agora não consegui entender porque o professor teria restringido os alunos dele a aplicarem um só método.
Imagine, por exemplo, que haja uma fileira com muitos carrinhos de supermercado sendo empurrados por uma única força externa aplicada no primeiro. Se for pedida a força que o penúltimo carrinho exerce sobre o último da frente, os alunos dele poderiam pensar em montar desnecessariamente várias equações com inúmeras incógnitas para que pudessem calcular primeiramente a aceleração, e aqueles que optassem pelo outro método chegariam à resposta muito mais rapidamente. Veja este exemplo:

Um conjunto de blocos de massa 4 kg cada um, é puxado por uma força F = 14 N. Despreze os atritos e determine a força de tração na última corda.


1º método:
F  - T1 = 4 a
T1 - T2 = 4 a
T2 - T3 = 4 a 
T3 - T4 = 4 a 
T4 - T5 = 4 a
T5 - T6 = 4 a
T6 = 4 a
_________
F = 28 a
14 = 28 a
a = 0,5 m/s²

T6 = 4 . 0,5 = 2 N

2º método (alternativo): 
Considerando todo o sistema:
F = (4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 ). a
14 = 28 . a
a = 0,5 m/s² 

T6 = 4 . 0,5 = 2 N