Perdido em Marte e as críticas às explorações espaciais

Perdido em Marte é uma bela obra de ficção científica, mas como ocorre frequentemente em quase todo filme desse gênero, algumas situações fogem um pouco do que seria possível acontecer na realidade. Em alguns casos a intensão do diretor é tornar a trama mais interessante, a fim de prender a atenção do público.
No início do filme, a grande tempestade de areia, por exemplo, jamais poderia ter tido força semelhante à mostrada. Há também outras pequenas incoerências perceptíveis para alguns olhos mais exigentes, como a ausência dos efeitos que a gravidade bem menor de Marte provocaria nos movimentos e caminhadas dos astronautas. 
Algumas filmagens foram feitas em um local do sul da Jordânia, conhecido como Vale da Lua (foto). Os exploradores marcianos não aparentam ter um peso correspondente a 38% do que teriam na Terra. Para exemplificar, isto significa que uma pessoa de 70 kg teria a sensação de se movimentar como se tivesse apenas 27 kg em Marte.

Água e plantas
Algumas missões robóticas enviadas a Marte já encontraram sinais de água no subsolo marciano que poderia ser usada por astronautas para cultivar plantas, as quais serviriam de alimento e também para produção de combustíveis para os foguetes.
O satélite que orbita Marte desde 2006, chamado Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) da NASA, com sua poderosa câmera de alta resolução de imagens, mapeou o planeta, o que permitiu compreender melhor o relevo, o clima, a atmosfera e também os possíveis locais que poderiam indicar a presença de água. 
Na verdade, como ainda não há comprovação de que há uma quantidade de água que pudesse ser aproveitada suficientemente, no filme, fizeram com que o astronauta perdido optasse por obtê-la de outra maneira, a partir da hidrazina, um tipo de combustível usado em foguetes.

Radiação
O jipe Curiosity (imagem), que na época de seu lançamento, no final de 2011, foi tema de um post deste blog, levou consigo o detector RAD, projetado para medir a radiação do ambiente marciano.
O jipe Curiosity, que pousou em 2012 em Marte, levou um medidor da radiação do ambiente.
Esses dados são essenciais para a compreensão de como os astronautas precisariam estar protegidos ao fazer uma caminhada ao ar livre por lá. O protagonista do filme, Mark Watney, interpretado pelo ator Matt Damon, não poderia ficar tanto tempo exposto às radiações de Marte sem que corresse o risco de sofrer algumas sequelas, como câncer, por exemplo.

Naves, Habitações e Veículos 
O Curiosity, com massa de uma tonelada, foi o objeto mais pesado enviado a Marte até agora, e pensando no futuro, o laboratório JPL está desenvolvendo tecnologias para conseguir pousar cargas ainda maiores. Uma delas é o projeto do Desacelerador Supersônico de Baixa Densidade (foto).
O Desacelerador Supersônico de Baixa Densidade, durante as fases de testes e construção.
Trata-se de um grande disco que teria a função de inflar-se durante a entrada da atmosfera de Marte, aumentando o atrito e diminuindo a velocidade, para que os paraquedas pudessem resistir ao se abrirem, pousando com segurança um veículo grande, parecido com o do filme, e também equipamentos de uma estação habitável, ou nave tripulada, que é o objetivo futuro da NASA. O desembarque auto controlado do Curiosity em 2012 foi um marco importante no caminho para essa capacidade.


Comunicações
Além das missões espaciais a Marte, o JPL administra o Deep Space Network da NASA. Esta rede também seria usada para estabelecer comunicações vitais com a nave espacial através do sistema solar, e manter contato com os futuros astronautas em viagens entre a Terra e Marte.

Finalizando com uma reflexão
Diante das notícias recentes sobre as evidências de água em Marte, e da relação estabelecida com as condições que indicam a possibilidade de o planeta abrigar algum tipo de vida, mesmo que microscópica, vi no facebook uma certa crítica à procura por vida em Marte, sugerindo que deveríamos melhorar primeiramente as condições de vida existente em nosso próprio planeta. Veja a imagem. 
Eu concordo plenamente que poderíamos cuidar melhor de todos os seres vivos da Terra, mas o fato é que os gastos com as corridas espaciais correspondem a uma fração muito pequena do que se gasta, por exemplo, em armamentos de guerra que provocam uma quantidade enorme de refugiados que não encontram abrigos em outros países. Então, por quê não pensamos em procurar algum meio de parar de produzir ou financiar tantos armamentos de guerra? 
Além disso, por enquanto há uma certeza: o Sol, daqui a bilhões de anos, começará a se inflar, tornando-se uma Gigante Vermelha, queimando Mercúrio, Vênus e também o nosso planeta, e se resolvermos que devemos permanecer sempre aqui no nosso mundinho, fatalmente seremos uma espécie extinta. Isto sem falar do que pode acontecer muito antes disso, com o surgimento de catástrofes naturais, guerras, pragas ou mudanças repentinas no clima.  
Que tal, então,  pensarmos em explorar outros locais desde já?

Fontes:
http://www.jpl.nasa.gov/news/news.php?feature=4731#martian-skip
http://idgnow.com.br/internet/2015/10/01/5-tecnologias-reais-da-nasa-que-estao-no-filme-perdido-em-marte/
http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2015/10/9-erros-e-acertos-de-perdido-em-marte.html